Opinião

A esperança do fim do mundo

Partiu como chegou. Simples e despojado. Para trás deixa sementes de uma ideia velha que, por desuso secular, soube devolver a milhões embrulhada num sorriso tão aberto como os seus braços, sempre prontos para envolver, sobretudo, os mais excluídos. Esta ideia velha de abertura ao outro, de tolerância, de perdão, do compromisso forjado no reconhecimento das fraquezas - próprias e coletivas - assenta, afinal, na mensagem original de quem pregava o amor como a fórmula para elevar a Humanidade.
Quando, a 13 de março de 2013, se abeirou da varanda para saudar um mundo que o aguardava, num misto de curiosidade e espanto, fê-lo de uma forma que, para além de marcar todo o seu pontificado, tocou, na verdade, o coração de crentes e de não crentes.
Francisco, o Papa que, nas palavras do próprio, os seus irmãos cardeais foram buscar "ao fim do mundo", veio de Buenos Aires para devolver a Igreja Católica à sua base e, com isso, escancarar as suas portas e trazer luz onde, durante décadas, se instalou a escuridão e hipocrisia.
Com palavras simples carregadas de compreensão pelos erros próprios e pelos erros dos outros, e com a imagem de um avô sempre pronto a oferecer o colo a quem sofria ou procurava amparo, Francisco transfigurou uma Igreja fechada sobre si própria, perdida entre dogmas e uma ação ou omissão que, não raras vezes, chocava de frente com as poderosas palavras nas quais se fundava.
Rompeu tradições, rejeitou luxos e ostentações, renovou o colégio de cardeais e ousou dizer que queria uma Igreja onde coubessem "todos, todos, todos".
Num mundo cada vez mais polarizado, assente na dicotomia de "nós e os outros", onde a desigualdade campeia e a dignidade humana se mede, demasiadas vezes, pela classe social ou pela dimensão do bolso de cada um, Francisco foi um verdadeiro peregrino que nos trouxe, lá do fim do mundo, a esperança e a crença de que podemos - todos - ser e fazer melhor.

Abril sempre
A celebrar mais um 25 de abril, assoma a ideia de que esta democracia - tantas vezes desejada e tantas vezes malvista - é um presente que gerações anteriores legaram à minha e às gerações vindouras. Nestes tempos tumultuosos, o mínimo que nos é exigido é que saibamos cuidar, preservar, fortalecer para, deste modo, deixar aos outros um Abril que faça jus às suas promessas. Com isto em mente, o próximo dia 18 de maio é já - mais - uma oportunidade para não só celebrar Abril como ajudar a cumpri-lo.